quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E O ENSINO DE HISTÓRIA: REFLEXÕES DOCENTES

A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E O ENSINO DE HISTÓRIA: REFLEXÕES DOCENTES

Francisco Thiago Silva / Laryssa Vasconcelos / Robson Carlos Casagrande


Resumo: Analisamos neste texto as impressões que os professores de história da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal têm sobre o processo de implantação da Base Nacional Comum Curricular - BNCC, no que diz respeito ao ensino de sua disciplina. Compreendemos o campo curricular a partir das contribuições da teoria crítica (SILVA, 2011) a despeito da necessidade em discernir quem determina e em larga medida qual é o conhecimento válido que povoa um documento tão importante como a BNCC. Estruturamos o texto da seguinte maneira: iniciamos com os conceitos que perfilam o campo curricular, o colocando como um “território contestado” (MOREIRA; TADEU, 2006), em seguida discutimos os aspectos históricos e legais que cercam a proposta da BNCC, após debatemos as implicações da proposta para a prática curricular do ensino de história e finalizamos com a análise dos dados coletados a partir de questionário aplicado com sete docentes da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. O estudo apontou as fragilidades da Base Nacional Comum Curricular a partir do componente curricular de história, sobretudo porque os agentes modeladores do currículo ficaram estranhos ao processo de elaboração da política e a possível aprovação da mesma poderá resultar em mais uma tentativa de transposição legislativa do currículo, já que nem mesmo as Diretrizes Curriculares Nacionais, nas suas mais diversas esferas, conseguiram alcançar plenamente seus objetivos.

Palavras-chave: Base Nacional Curricular Comum, Ensino de História.
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*Revista do Centro Universitário Projeção - DF publica novo artigo sobre a BNCC.
Link da publicação:  Artigo Completo - BNCC




domingo, 19 de fevereiro de 2017

“Práticas de combate ao machismo na escola”

Prof. Dtnd. Francisco Thiago Silva – SEDF / UniProjeção[1]

         Desde que Eva - a figura bíblica do gênesis - decidiu tomar uma decisão autônoma, sem a devida consulta e/ou permissão de Adão - primeira criatura - e imagem “masculina” à semelhança do criador que resultou na expulsão de ambos do paraíso, a figura feminina passou a representar o próprio pecado na construção do pensamento cristão ocidental. Sendo responsabilidade eterna da mulher na Terra obedecer a seu senhor, gerar filhos “machos” e ser submissa em toda sua existência, como um meio de redimir a escolha da primeira mulher que habitou a Terra.
         Muitos séculos passaram desde então e o cenário atual de início do século XXI demonstra que a famosa passagem bíblica e seus desdobramentos já não representa nossa realidade. As mulheres em suas diferentes representações de raça, classe, cor, gênero e sexualidade tomam as próprias decisões e galgam o seu espaço no mercado de trabalho e na sociedade. Embora o mito religioso em torno de Adão e Eva ainda gravite em torno das relações parentais, patriarcais e machistas que sustentaram o Brasil, desde a invasão portuguesa. Muitos ainda são os casos de feminicídio, violência doméstica, estupros e assédio em nossa sociedade que alimentam o fenômeno social do machismo e do sexismo.  
         A Lei Nº 5.806, de 26 de janeiro de 2017, publicada no DODF é mais uma tentativa de reforçar na Rede Pública de Ensino práticas de combate às manifestações discriminatórias contra as mulheres. E antes que muitos e muitas possam refutar a matéria da Lei, a partir do senso comum, é preciso problematizar algumas questões que fazem parte da discussão: foram as mulheres que mais sofreram com o patriarcalismo no Brasil – isso, entretanto, não as torna simples vítimas, mas sujeito de sua própria história-, portanto é um equívoco imaginar que devam existir ações de enfrentamento a uma suposta superioridade feminina com relação à masculina; é recomendado cautela ao usar o termo “empoderamento”, isso na prática significa tirar o poder de um grupo e passar a outro que, alterando de forma maniqueísta nesta relação social; as questões feministas se perdem quando são totalmente desvinculadas das de raça e classe.
         Na verdade o que se deve buscar, sobretudo na educação, é a rescrita da história da mulher no Brasil e a ampliação de debates que possam formar estudantes comprometidos com esta pauta, independente do sexo e/ou gênero a que pertençam.
         É preciso reforçar que nas últimas duas décadas, especificamente, o assunto tem povoado a agenda e tem se materializado em algumas políticas públicas que fizeram avançar a temática no campo educacional e curricular. Podemos citar algumas delas: os textos legais da CF/88, da LDB/96, dos PCN’S/97, as extintas SECADI, SEPM e SEPPIR, o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, etc. No cenário local há a previsão de ações de combate ao racismo e ao machismo na Lei Orgânica, no PPP da SEDF, no Currículo em Movimento da SEDF, por meio de atividades e projetos pedagógicos (realizados em muitas escolas), cursos de aperfeiçoamento como o “Vidas Plurais” e o “GDE – Gênero e Diversidade na Escola” realizados pela parceria SEDF e UnB já formaram inúmeros profissionais da educação.
         A Lei é mais um instrumento normativo que poderá consolidar essas práticas. Porém, enquanto o assunto não fizer parte do Projeto Pedagógico das Instituições de Ensino, com ampla participação de toda a comunidade escolar, teremos práticas isoladas e descoladas das grandes questões que fazem parte do item. O caso é que racismo, machismo, feminismo, gênero, sexualidade e outros temas considerados ainda polêmicos só avançam se estiverem estruturando o currículo escolar e o da formação das professoras e professores em seus diferentes níveis.



[1] Doutorando em Educação e Currículo pela Faculdade de Educação – UnB. Mestre em Educação e Currículo (UnB). Especialista em História e Cultura Afro-brasileira. Graduado em História e Pedagogia. Professor da SEDF e do Centro Universitário Projeção. E-mail: fthiago2002@yahoo.com.br. Blog: http://professorfranciscothiago.blogspot.com.br/