quarta-feira, 5 de junho de 2013

RESENHA PUBLICADA: RELEMBRANDO

THE HELP”: Um grito de socorro pela igualdade racial

- Ficha Técnica:
- Título: “The Help” (Histórias Cruzadas)
- Ano/ País de Produção: 2011/ Estados Unidos
- Diretor: Tate Taylor

Assistindo ao filme “Histórias Cruzadas” (EUA - 2011), percebei o quão ainda precisamos lutar ideologicamente para que nosso país, e por que não o mundo, se torne um espaço de verdadeiras oportunidades iguais para todos que pertençam a  raça humana, biologicamente falando. Mas sócio-historicamente subdividida em duas categorias: os que nasceram brancos, livres, senhores e os que nasceram negros, o que neste país, equivocadamente é sinônimo de escravo, subalterno, não-educado, somente empregado.
A película é baseada no Best-seller “The Help” da escritora norte-americana Kathryn Stockett. Aqui no Brasil a obra foi traduzida como “A resposta” e publicada no início de 2011 pela editora Bertrand Brasil.
O romance é ambientado nos anos 60, na cidade de Jackson no estado do Mississipi, sul dos Estados Unidos. Uma jovem e recém formada jornalista, decide escrever um livro, que retratasse a visão das empregadas domésticas afro-americanas, que cuidavam dos filhos de uma das sociedades mais racializadas e racistas dos EUA.
Ao longo do filme, histórias são vividas e contadas sob a ótica das empregadas negras, que eram veladas até de utilizar o mesmo banheiro que seus patrões. É bem verdade, que historicamente, tais atitudes eram sustentadas por “Manuais de Conduta”. Nesses livros, de lei eram expressas as punições para qualquer cidadão ou cidadã que provocasse discussão ou tentativa de igualar racialmente a sociedade estadunidense daquele período.  Outro filme que retratou a sociedade racista do Mississipi, foi “Mississipi em Chamas” (EUA -  1988), ao associar os atos racistas de extrema violência, como assassinatos, à ordem Ku Klux Klan, não é o caso me estender nessa história.
O roteiro é sensível, ao ilustrar, como uma sociedade de elite, branca e protestante, pode esconder tanto preconceito, em verdade as cenas do filme demonstram que o racismo é praticado, explicitamente.
E o que isso tem a ver com o Brasil? Muitos ainda vivem sob a explicação do “mito da democracia racial”[1], para mascarar os variados tipos de racismo, os quais a população negra ainda vivencia em seu cotidiano.Nas palavras de Regina Leite Garcia: (1995, 117) “Ser trabalhador euro-brasileiro, do sexo masculino, é diferente de ser trabalhadora afro-brasileira, do sexo feminino.”
Autoras como Eliane Cavalleiro (2000), Renísia Garcia (2011), Nilma Lino Gomes (2008), Petronília Gonçalves e Silva (1996), já explicitaram em suas pesquisas, a necessidade que a população afro-desendente, em especial as mulheres, têm em se igualar em oportunidades de acesso a instrução de qualidade, consequentemente a melhores postos de trabalho. Ações Afirmativas  do governo como as Cotas Raciais e mesmo a lei 10.639/2003[2] foram marcos na luta anti-racista,  que por tantos anos foi bradada e liderada pelos movimentos negros.
Entendo que para o combate das praticas de discriminação racial em nossa nação, a educação apareça como mecanismo essencial e basilar para a construção verdadeira de uma democracia racial, que oportunize na prática igualdade de tratamento e de oportunidades para cada cidadão brasileiro, independente da etnia. Como defendi anteriormente (SILVA, 2011) :”é necessário que se construa, como possibilidade real, uma escola que se apresente como instituição social vocacionada pela promoção de uma educação democrática, plural e anti-racista.”
Ainda estamos longe disso, mas histórias como a do Mississipi, devem servir de inspiração para que tantos estudiosos, pesquisadores e principalmente, professores desenvolvam seu fazer pedagógico, voltado para o anti-racismo. Assim, cada estudante que se sinta silenciado possa ter a oportunidade de dar o seu grito de socorro, e ser ouvido, como as mulheres negras, empregadas domésticas, que fizeram do seu cotidiano, racializado e discriminatório, como combustível na luta pela igualdade racial.
*Referências Consultadas:
-  GARCIA, Regina Leite. Currículo Emancipatório e Multiculturalismo: reflexões de viagem. IN: MOREIRA, Antônio Flávio e SILVA, Tomaz Tadeu da. Territórios Contestados. Petrópolis – RJ: vozes, 1995.
- SILVA, Francisco Thiago. Currículo e Diversidade: propostas para uma educação antirracista nos anos iniciais. IN: Revista Brasileira de Educação e Cultura, n. 4, p. 34-44, julho-dezembro, São Gotardo: 2011.


[1] Sobre a teoria da democracia racial, defendida por Gilberto Freyre em sua clássica obra: “Casa Grande e senzala” (1933).
[2] Lei que acrescentou o Artigo 26-A da LDB (9394/96), e que tornou obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileiras em todas as escolas de educação básica do http://periodicos.cesg.edu.br/index.php/educacaoecultura/article/view/61/75Brasil.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário