“THE HELP”: Um grito de socorro pela
igualdade racial
- Ficha
Técnica:
- Título:
“The Help” (Histórias Cruzadas)
- Ano/ País
de Produção: 2011/ Estados Unidos
- Diretor: Tate
Taylor
Assistindo ao filme “Histórias Cruzadas”
(EUA - 2011), percebei o quão ainda precisamos lutar ideologicamente para que
nosso país, e por que não o mundo, se torne um espaço de verdadeiras
oportunidades iguais para todos que pertençam a
raça humana, biologicamente falando. Mas sócio-historicamente
subdividida em duas categorias: os que nasceram brancos, livres, senhores e os
que nasceram negros, o que neste país, equivocadamente é sinônimo de escravo,
subalterno, não-educado, somente empregado.
A película é baseada no Best-seller “The
Help” da escritora norte-americana Kathryn Stockett. Aqui no Brasil
a obra foi traduzida como “A resposta” e publicada no início de 2011 pela
editora Bertrand Brasil.
O romance é ambientado nos anos 60, na
cidade de Jackson no estado do Mississipi, sul dos Estados Unidos. Uma jovem e
recém formada jornalista, decide escrever um livro, que retratasse a visão das
empregadas domésticas afro-americanas, que cuidavam dos filhos de uma das
sociedades mais racializadas e racistas dos EUA.
Ao longo do filme, histórias são vividas
e contadas sob a ótica das empregadas negras, que eram veladas até de utilizar
o mesmo banheiro que seus patrões. É bem verdade, que historicamente, tais
atitudes eram sustentadas por “Manuais de Conduta”. Nesses livros, de lei eram
expressas as punições para qualquer cidadão ou cidadã que provocasse discussão
ou tentativa de igualar racialmente a sociedade estadunidense daquele período. Outro filme que retratou a sociedade racista
do Mississipi, foi “Mississipi em Chamas” (EUA - 1988), ao associar os atos racistas de
extrema violência, como assassinatos, à ordem Ku Klux Klan, não
é o caso me estender nessa história.
O roteiro é sensível, ao ilustrar, como uma sociedade de elite, branca
e protestante, pode esconder tanto preconceito, em verdade as cenas do filme
demonstram que o racismo é praticado, explicitamente.
E o que isso tem a ver com o Brasil? Muitos ainda vivem sob a
explicação do “mito da democracia racial”[1],
para mascarar os variados tipos de racismo, os quais a população negra ainda
vivencia em seu cotidiano.Nas palavras de Regina Leite Garcia: (1995, 117) “Ser
trabalhador euro-brasileiro, do sexo masculino, é diferente de ser trabalhadora
afro-brasileira, do sexo feminino.”
Autoras como Eliane Cavalleiro (2000), Renísia Garcia (2011),
Nilma Lino Gomes (2008), Petronília Gonçalves e Silva (1996), já explicitaram
em suas pesquisas, a necessidade que a população afro-desendente, em especial
as mulheres, têm em se igualar em oportunidades de acesso a instrução de
qualidade, consequentemente a melhores postos de trabalho. Ações Afirmativas do governo como as Cotas Raciais e mesmo a lei
10.639/2003[2] foram
marcos na luta anti-racista, que por
tantos anos foi bradada e liderada pelos movimentos negros.
Entendo que para o combate das praticas de discriminação racial em nossa
nação, a educação apareça como mecanismo essencial e basilar para a construção verdadeira
de uma democracia racial, que oportunize na prática igualdade de tratamento e
de oportunidades para cada cidadão brasileiro, independente da etnia. Como
defendi anteriormente (SILVA, 2011) :”é necessário que se construa, como
possibilidade real, uma escola que se apresente como instituição social
vocacionada pela promoção de uma educação democrática, plural e anti-racista.”
Ainda estamos longe disso, mas histórias como a do Mississipi, devem
servir de inspiração para que tantos estudiosos, pesquisadores e
principalmente, professores desenvolvam seu fazer pedagógico, voltado para o
anti-racismo. Assim, cada estudante que se sinta silenciado possa ter a
oportunidade de dar o seu grito de socorro, e ser ouvido, como as mulheres
negras, empregadas domésticas, que fizeram do seu cotidiano, racializado e
discriminatório, como combustível na luta pela igualdade racial.
*Referências Consultadas:
- GARCIA, Regina Leite. Currículo Emancipatório
e Multiculturalismo: reflexões de viagem. IN: MOREIRA, Antônio Flávio e SILVA,
Tomaz Tadeu da. Territórios Contestados. Petrópolis – RJ: vozes, 1995.
- SILVA, Francisco Thiago. Currículo e Diversidade: propostas para uma
educação antirracista nos anos iniciais. IN: Revista Brasileira de Educação
e Cultura, n. 4, p. 34-44, julho-dezembro, São Gotardo: 2011.
[1] Sobre a teoria da democracia racial, defendida por
Gilberto Freyre em sua clássica obra: “Casa Grande e senzala” (1933).
[2] Lei que acrescentou o Artigo 26-A da LDB (9394/96),
e que tornou obrigatório o ensino de história e cultura africana e
afro-brasileiras em todas as escolas de educação básica do http://periodicos.cesg.edu.br/index.php/educacaoecultura/article/view/61/75Brasil.
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