terça-feira, 29 de outubro de 2013

“As dimensões do campo curricular ” (MATERIAL DE ESTUDO)



Francisco Thiago Silva[1]

         O último século trouxe diversas contribuições para a epistemologia educacional, sobretudo fez nascer um campo que a cada dia tem atraído estudiosos e provocado intensos debates, pois suas manifestações e desdobramentos resultam em políticas educacionais que influenciam toda a prática pedagógica:o campo curricular.
Para melhor conceituá-lo Silva (2011) acredita que seja possível fazer a análise a partir de três perspectivas, ou seja, a forma de se compreender o significado de currículo indica uma concepção teórica de educação que se tem: tradicional, crítica e pós-estruturalista ou pós-crítica.
Na perspectiva tradicional a ênfase está nos professores, que ensinam e os alunos aprendem, existe uma avaliação classificatória onde os objetivos, métodos e procedimentos são desenvolvidos pensados somente na obtenção de resultados, em ter uma "produção mais eficiente”.
Na teoria crítica, sustentada por autores marxistas, da Escola de Frankfurt e da Nova Sociologia da Educação, desloca-se a ênfase de conceitos pedagógicos de ensino e aprendizagem para conceitos como ideologia, reprodução cultural e social, poder, classe, capitalismo, relações sociais de produção, emancipação e libertação, aparece o currículo oculto como ações que acontecem na escola que não estão escritas, mas fazem parte do cotidiano como se fosse uma verdade prescrita.
Para os pós-críticos ou pós-estruturalistas o currículo estará vinculado à questão de identidade, olhar o outro como parte que constitui o sujeito, alteridade, as questões das diferenças e subjetividade, cultura, as narrativas de gênero, raça, etnia, sexualidade, o multiculturalismo.
É necessário elucidar também outras dimensões do currículo, além de suas concepções teóricas, a saber:
- Fases/níveis do currículo (SACRISTÁN, 2000):
·         O currículo prescrito;
·         O currículo apresentado aos professores;
·         O currículo modelado pelos professores;
·         O currículo em ação;
·         O currículo realizado;
·         O currículo avaliado.

- O currículo Coleção (BERNSTEIN, 1977): Modelo linear sem integração de áreas e conhecimento. Currículo passa a ser uma listagem de conteúdos que não conversam.
- O currículo Integrado (BERNSTEIN, 1977; SANTOMÉ, 1998): Os conteúdos são relevantes e integrados por eixos, áreas ou campos.

- Reflexões sobre o “Currículo em Movimento da SEDF” e sobre o campo curricular:

·         Não há clareza teórica e metodológica na proposta curricular da SEDF;
·         Fragilidade na proposta de educação integral;
·         A participação do professor é silenciada;
·         Áreas? Disciplinas? Matérias? Campos?
·         Onde estão os objetivos educacionais?
·         Os blocos em algumas áreas se repetem, mesmo em diferentes anos, não há dosagem de conteúdo;
·         Sem levar em conta as condições de trabalho dos profissionais da educação, com o devido investimento em políticas públicas e não mais na descontinuidade política (campo curricular e educacional) do DF, a qualidade e mudança que se tenciona serão reduzidas a mais um documento curricular, entre tantos.
·         CURRÍCULO E FORMAÇÃO DOCENTE DEVEM CAMINHAR JUNTOS;
·         AINDA VIVEMOS A “ERA MODERNA” COM TODAS AS CONTRADIÇÕES DO SISTEMA ECONÔMICO CAPITALISTA.
É necessário, que se levante um questionamento central: o documento curricular é prescrito por quem? É importante haver prescrição e regulação com a participação do professor em toda a construção curricular, caso contrário à escolarização poderá deixar lacunas no processo de desenvolvimento da aquisição dos conteúdos mínimos que dificilmente serão sanadas se o aluno não tiver acesso aos bens culturais e conhecimentos construídos socialmente.
         Encerramos este ensaio esperando que as reflexões aqui elencadas ventilem positivamente a formação inicial dos pedagogos. Portanto nos apropriamos de um dos conceitos críticos de currículo que deve acompanhar a formação profissional docente: “[...] novo pensar sobre o currículo: como um conjunto de práticas culturais, políticas, significativas e vivas, para todos os atores sociais envolvidos com a prática educativa”. (SILVA, 2011b, p. 43)
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Referências Bibliográficas
- BERNSTEIN, B. Clases, códigos y control: Hacia uma teoria de las transmisiones educativas. Madri: Akal, 1977.
- SACRISTÁN, J. Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática, 3ª Ed. Porto Alegre: ArtMed, 2000.
- SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
- SILVA, Tomaz Tadeu. Documento de Identidades: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte; Autêntica, 2011.
- SILVA, Francisco Thiago Silva; Currículo e Diversidade: propostas para uma educação antirracista nos anos iniciais. Revista Brasileira de Educação e Cultura. Centro de Ensino Superior de São Gotardo. Número IV. JUL-DEZ, 2011b.
- SILVA, Francisco Thiago e SILVA; Leda Regina Bitencourt da. Currículo prescrito e trabalho docente: desprofissionalização dos professores na Educação Básica do Distrito Federal. BELO HORIZONTE: UFMG, 2012.


[1] Mestrando em Educação pela Universidade de Brasília, sob orientação da profa. Dra. Lívia Borges. Membro dos grupos de pesquisa GEPPHERG e CURRÍCULO, FE/UnB. Especialista em História Afro-brasileira e Africana pela Faculdade Phenix, graduado em História pela Faculdade Projeção-DF e Pedagogia pela FACEL-PR. Professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal desde 2005. E-mail para contato: fthiago2002@yahoo.com.br.

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