Francisco Thiago Silva[1]
O último século trouxe
diversas contribuições para a epistemologia educacional, sobretudo fez nascer
um campo que a cada dia tem atraído estudiosos e provocado intensos debates,
pois suas manifestações e desdobramentos resultam em políticas educacionais que
influenciam toda a prática pedagógica:o campo curricular.
Para melhor conceituá-lo Silva (2011) acredita que
seja possível fazer a análise a partir de três perspectivas, ou seja, a forma
de se compreender o significado de currículo indica uma concepção teórica de
educação que se tem: tradicional, crítica e pós-estruturalista ou pós-crítica.
Na perspectiva tradicional a ênfase está nos
professores, que ensinam e os alunos aprendem, existe uma avaliação
classificatória onde os objetivos, métodos e procedimentos são desenvolvidos
pensados somente na obtenção de resultados, em ter uma "produção mais
eficiente”.
Na teoria crítica, sustentada por autores
marxistas, da Escola de Frankfurt e da Nova Sociologia da Educação, desloca-se
a ênfase de conceitos pedagógicos de ensino e aprendizagem para conceitos como
ideologia, reprodução cultural e social, poder, classe, capitalismo, relações
sociais de produção, emancipação e libertação, aparece o currículo oculto como
ações que acontecem na escola que não estão escritas, mas fazem parte do
cotidiano como se fosse uma verdade prescrita.
Para os
pós-críticos ou pós-estruturalistas o currículo estará vinculado à questão de
identidade, olhar o outro como parte que constitui o sujeito, alteridade, as
questões das diferenças e subjetividade, cultura, as narrativas de gênero,
raça, etnia, sexualidade, o multiculturalismo.
É
necessário elucidar também outras dimensões do currículo, além de suas
concepções teóricas, a saber:
- Fases/níveis do
currículo (SACRISTÁN, 2000):
·
O currículo prescrito;
·
O currículo apresentado aos professores;
·
O currículo modelado pelos professores;
·
O currículo em ação;
·
O currículo realizado;
·
O currículo avaliado.
- O currículo Coleção
(BERNSTEIN, 1977): Modelo linear sem integração de áreas e conhecimento. Currículo
passa a ser uma listagem de conteúdos que não conversam.
- O currículo Integrado (BERNSTEIN, 1977; SANTOMÉ, 1998): Os conteúdos são
relevantes e integrados por eixos, áreas ou campos.
- Reflexões sobre o “Currículo em Movimento da SEDF” e sobre o campo
curricular:
·
Não há clareza teórica e metodológica na proposta
curricular da SEDF;
·
Fragilidade na proposta de educação integral;
·
A participação do professor é silenciada;
·
Áreas? Disciplinas? Matérias? Campos?
·
Onde estão os objetivos educacionais?
·
Os blocos em algumas áreas se repetem, mesmo em
diferentes anos, não há dosagem de conteúdo;
·
Sem levar em conta as condições de trabalho dos
profissionais da educação, com o devido investimento em políticas públicas e
não mais na descontinuidade política (campo curricular e educacional) do DF, a
qualidade e mudança que se tenciona serão reduzidas a mais um documento
curricular, entre tantos.
·
CURRÍCULO E FORMAÇÃO DOCENTE DEVEM CAMINHAR JUNTOS;
·
AINDA VIVEMOS A “ERA MODERNA” COM TODAS AS
CONTRADIÇÕES DO SISTEMA ECONÔMICO CAPITALISTA.
É necessário, que se levante um questionamento
central: o documento curricular é prescrito por quem? É importante haver
prescrição e regulação com a participação do professor em toda a construção
curricular, caso contrário à escolarização poderá deixar lacunas no processo de
desenvolvimento da aquisição dos conteúdos mínimos que dificilmente serão
sanadas se o aluno não tiver acesso aos bens culturais e conhecimentos
construídos socialmente.
Encerramos este ensaio
esperando que as reflexões aqui elencadas ventilem positivamente a formação
inicial dos pedagogos. Portanto nos apropriamos de um dos conceitos críticos de
currículo que deve acompanhar a formação profissional docente: “[...] novo
pensar sobre o currículo: como um conjunto de práticas culturais, políticas,
significativas e vivas, para todos os atores sociais envolvidos com a prática
educativa”. (SILVA, 2011b, p. 43)
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Referências Bibliográficas
- BERNSTEIN, B. Clases,
códigos y control: Hacia uma teoria de las
transmisiones educativas. Madri: Akal, 1977.
- SACRISTÁN, J. Gimeno. O
currículo:
uma reflexão sobre a prática, 3ª Ed. Porto Alegre: ArtMed, 2000.
- SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinaridade: o
currículo integrado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
- SILVA, Tomaz Tadeu. Documento de Identidades: uma
introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte; Autêntica, 2011.
- SILVA, Francisco Thiago
Silva; Currículo e Diversidade: propostas para uma educação antirracista
nos anos iniciais. Revista Brasileira de Educação e Cultura. Centro de Ensino
Superior de São Gotardo. Número IV. JUL-DEZ, 2011b.
- SILVA,
Francisco Thiago e SILVA; Leda Regina Bitencourt da. Currículo prescrito e
trabalho docente: desprofissionalização dos professores na Educação Básica
do Distrito Federal. BELO HORIZONTE: UFMG, 2012.
[1] Mestrando em Educação pela
Universidade de Brasília, sob orientação da profa. Dra. Lívia Borges. Membro
dos grupos de pesquisa GEPPHERG e CURRÍCULO, FE/UnB. Especialista em História Afro-brasileira
e Africana pela Faculdade Phenix, graduado em História pela Faculdade Projeção-DF
e Pedagogia pela FACEL-PR. Professor da Secretaria de Educação do Distrito
Federal desde 2005. E-mail para contato: fthiago2002@yahoo.com.br.
Muito bom Professor.
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