segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Acompanhe o resumo que será apresentado!

Candomblé Iorubá: a relação do homem com seu orixá pessoal
(Resumo)


Francisco Thiago Silva[1]

Este artigo objetiva entender as relações e influências dos arquétipos dos orixás nos seguidores do Candomblé Iorubá a partir da revisão e análise crítica sob uma ótica comparativa de diversas fontes, principalmente as obras: O candomblé da Bahia (2001) de Roger Bastide, Orixás (1981) assinada por Pierre Verger e Mitologia dos Orixás (2001) de Reginaldo Prandi, autores que abordaram a ritualística candomblista sob diferentes óticas, porém são unânimes em afirmar a existência de especificidades no culto candomblista entre o fiel e o seu orixá, resultando na construção identitária desses filhos e filhas de santo.   Essa miscelânea de ritos que tornou a fé nos orixás uma religião de matriz africana, mas genuinamente brasileira, teve terreno fértil para se desenvolver em nosso território e a partir desse contato com uma nova cultura fundamentada na religião cristã foi transformada e se construiu com características próprias, atraindo hoje praticantes em diversos setores da nossa sociedade, sendo uma das mais importantes religiões afro-brasileiras. A prática destes cultos colocou o espaço do terreiro como uma forma de resistência cultural, formador de uma consciência coletiva libertária, tendo como base a construção da identidade subjetiva de cada praticante. É clara e marcante a presença do negro africano nas bases da sociedade e da cultura brasileira, é difícil entender a história do Brasil, sem considerar a influência dos bantos, dos iorubás, dos angolanos, enfim, de tantas nações que fazem do nosso país o que ele é, uma verdadeira mistura de culturas e crenças. Cabe salientar, que a escolha por focar as percepções educacionais dessa pesquisa no candomblé ketu-nagô, se deve ao fato de que muito já foi escrito e estudado sobre esse culto, que se apresenta com certa organização e traços semelhantes entre as várias casas espalhadas pelo país, conforme Marina de Mello e Souza (2006), Reginaldo Prandi (1997) e Roger Bastide (2001). É importante destacar que, inquices, voduns, cabolclos apresentam uma quantidade razoável de referências literárias, porém a aproximação do autor se dá com os candomblés de matriz Iorubá. Apesar da variedade de cultos e de divindades existentes no continente africano, no Brasil, o termo candomblé foi o mais utilizado para designar as diversas práticas mágicas e religiosas, relacionadas ao culto dos orixás. A história escrita em nosso território registrou a presença e a fecundidade desses ritos, e a preponderância das crenças de origem iorubana dentro dos candomblés espalhados pelo país. Roger Bastide é um nome que se destaca na área de religiões africanas. Seu mais conhecido livro é O Candomblé da Bahia (2001), onde descreve e comenta o funcionamento do candomblé iorubá, fortemente praticado nesta região. Muitos intelectuais são harmônicos em concordar que ele foi o responsável por reafirmar o status sociológico do candomblé. Assim também pensava Pierre Verger (1981), fotógrafo francês, estudioso e praticante do candomblé, autor de importantes estudos sobre as religiões de matriz africana, cada orixá tem um caráter próprio que é religiosamente atribuído e estendido aos seus seguidores, filhos ou filhas de santo. O autor acredita que por meio dos mitos, a religião fornece padrões de comportamento que modelam, reforçam e legitimam o comportamento dos fiéis. Reginaldo Prandi, que é um estudioso renomado no campo antropológico e com inúmeras pesquisas na área de religiões afro-brasileiras, traz uma interessante observação a cerca da personificação das entidades nos fieis: em Mitologia dos orixás (2001) o autor apresenta trezentos e um mitos iorubanos, sempre em suas mais antigas visões. Nesta obra Prandi escreve sobre a importância da relação do homem com o seu orixá, de forma que a idéia contempla coerentemente as propostas do presente artigo. Segundo ele, “Os orixás alegram-se e sofrem, vencem e perdem, conquistam e são conquistados, amam e odeiam. Os humanos são apenas cópias esmaecidas dos orixás dos quais descendem”. (PRANDI, 2001:24). O culto aos orixás aqui no Brasil ganhou formas e ritos específicos, a partir de uma mistura com outras crenças e passou a ter identidade própria, influenciando a vida e o cotidiano dos seus praticantes. Dentro da fé candomblista, o orixá ocupa um posto importante, já que o mesmo comanda e rege toda a existência individual e coletiva de seu fiel. Portanto é importante estudar até que ponto a personificação da entidade religiosa dentro do candomblé influencia e molda o caráter e externa suas atribuições e características através da vida do filho de santo. A partir disso, os estereótipos de personalidade são construídos sob a ótica do mundo candomblista e as ações, positivas ou negativas e as conseqüências delas na vida do fiel são o reflexo da subjetividade que cada orixá carrega e estende para seu filho durante toda a sua existência. Ou seja, no cotidiano do filho ou filha de santo, sua personalidade, seus sentimentos, suas vontades e a sua subjetividade são alicerçadas pelos arquétipos das entidades que os regem, essa transferência de características acontece cotidianamente por meio das obrigações, das devoções. Aos poucos a ligação entre o orixá e seu aprendiz vai estreitando-se, pois ambos passam a manter um relacionamento íntimo, de reciprocidade e de afeto.


Palavras - Chaves: Candomblé, Orixás, Arquétipos, Identidade.






[1] Professor da Secretaria de Educação do DF desde 2005. Licenciado em História e Especialista em História e Cultura Afro-Brasileira. E-mail: fthiago2002@yahoo.com.br

2 comentários:

  1. Olá Thiago!

    Estive na sua explanação...
    Adorei o tema e a forma como o abordou!

    Obrigado pela oportunidade de ouvi-lo
    e aprender um pouco sobre este tema:
    profundo, complexo e belo!

    Beijos!


    Eliane Rosa

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  2. Muito obrigado pela atenção.

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